terça-feira, 25 de março de 2014

NUMA NOITE QUALQUER!


NUMA NOITE QUALQUER!
Adailton Bastos
Diante de uma
folha em branco,
ainda não há pranto
e nem encanto...

Busco uma palavra
para ser feliz,
que escorrega por um triz
numa rima infeliz!

Caminho até a janela
fitando um vazio infinito:
A chuva cai!
A noite é obscura e turva!
Hoje as estrelas não
brincam no meu céu!

O vazio parece infinito...
Se não há encanto
há pranto,
Sem poesia a
folha continuará em branco...


quarta-feira, 19 de março de 2014

0 MITO DO UMBIGO


 0 MITO DO UMBIGO
Adailton Bastos
Exiba-se, neste
momento
o teu umbigo...
ele não é meu amigo
mal posso observá-lo sem
me deixar em êxtase
do
balançar do teu umbigo
inimigo meu,
que comigo
mexeu,
no teu gingado,
queria fazer dele uma taça
para champanhe,
me embriagar no
teu umbigo...
só me resta observá-lo
ele ginga para lá
ginga par cá,
afinal
é
um

mito... 

sábado, 8 de março de 2014

MULHER (SEXO FRÁGIL)


MULHER (SEXO FRÁGIL)
Erasmo Carlos
Dizem que a mulher
É o sexo frágil
Mas que mentira
Absurda!
Eu que faço parte

Da rotina de uma delas
Sei que a força
Está com elas...

Vejam como é forte
A que eu conheço
Sua sapiência
Não tem preço
Satisfaz meu ego
Se fingindo submissa
Mas no fundo
Me enfeitiça...

Quando eu chego em casa
À noitinha
Quero uma mulher só minha
Mas prá quem deu luz
Não tem mais jeito
Porque um filho
Quer seu peito...

O outro já reclama
A sua mão
E o outro quer o amor
Que ela tiver
Quatro homens
Dependentes e carentes
Da força da mulher...

Mulher! Mulher!
Do barro
De que você foi gerada
Me veio inspiração
Prá decantar você
Nessa canção...

Mulher! Mulher!
Na escola
Em que você foi
Ensinada
Jamais tirei um 10
Sou forte
Mas não chego

Aos seus pés...


HOMENAGEM AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

quarta-feira, 5 de março de 2014

CORPO A CORPO



CORPO A CORPO...
Adailton Bastos
No seu corpo eu me encontro
perdido em meio as sinuosas
curvas em que me curvo...
O seu corpo  me alegra
me embriaga e me exala
e me assalta as palavras ...
Seu corpo tem  o sabor
do pecado que não tem perdão!
No corpo a corpo  com
o falo eu falo até o êxtase...
E o êxtase  não é o fim
e sim o caminho da felicidade...



"Um corpo bonito não depende da forma escultural,
depende da paixão com que olhamos, 
desejamos e tocamos"
Adailton Bastos
                                                   


terça-feira, 4 de março de 2014

RIOS E INUNDAÇÕES


RIOS E INUNDAÇÕES
Paulo Martins
Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente.” Em um domingo pela manhã, li essas alusões em um livro de contos, do escritor Mia Couto. Lia para desafogar os problemas da vida.   A leitura, que era para dar prazer, terminou por afogar-me de vez.
             O tempo é um rio que atravessa a casa – senti um medo muito grande em ler isto. Sei do poder devastador de um rio. São águas violentas que vão levando tudo: infância, juventude, sonhos, familiares, amores.
           Os peixes que nadam ao contrário da correnteza são as lembranças – ao invés da corrente, fui lembrando coisas minhas que o rio já tinha levado. Afundei-me em meio a tanta saudade desmedida. De repente, a imagem do meu pai foi brotando não sei bem de onde.
           Nossa casa sempre estava nas encostas, à beira da margem do rio.             Meu pai, sapateiro de profissão, era o barqueiro que guiava nossa casa ao longo do rio. Era quem trazia o peixe de cada dia e nos dava segurança em meio às tempestades e inundações.
          Às vezes, a enchente vinha um pouco mais forte e a casa começava a sucumbir em meio às dificuldades, então ele anunciava em voz sisuda: “Tô cansado de falar e vocês não escutar. Vou sumir desta casa, aí quero ver o que vai ser de vocês”. E ele sumia mesmo, colocava o chapéu de couro e desaparecia, mas era só por algumas horas. Dolorosas horas. Deixava-nos a deriva, arrependidos de algo que não compreendíamos bem. Depois voltava, assumia o barco, e tudo voltava ao normal. Nessa hora, minha vontade era de abraçá-lo, beijá-lo. Mas faltava liberdade.
           Um dia as águas do rio vieram pra valer, devastadoras, arrancando tudo pela frente. Levou meu pai, para sempre. Era uma segunda feira, umas dez horas da noite. Do hospital, ligaram na casa da vizinha para dar a notícia. Depois, ouvi meu irmão dizendo a minha mãe “Não teve jeito, o papai acabou de partir”. Senti falta de ar, afogava-me em meio a um choro silencioso. A vontade era de morrer, desaparecer, seguir o curso do rio que tinha levado meu pai.
           Mas aí, lembrei-me de minha mãe, pouca escolaridade, sem renda qualquer, precisava de mim, único filho solteiro. Eu não estava sozinho no barco. Aos dezesseis anos, teria que assumir o posto de meu pai. O peixe de cada dia seria por minha conta. Trabalhar e voltar a estudar. Tinha que me preparar para outras enchentes.
          Às vezes, tenho a sensação de que os vendavais de hoje estão mais fortes, as inundações parecem ser mais impiedosas, como aquela que me atormentava no domingo de manhã, enquanto lia para desafogar-me. Mas o problema não é este. As inundações passadas e presentes possuem forças equivalentes. A diferença é que, há mais de duas décadas, deixei de contar com o barqueiro que me ensinou a navegar ao longo do rio.



Paulo Martins é professor e escritor,
pós-graduado em lingüística aplicada na educação.

 E-mail: paulo.linguagens@hotmail.com