quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OS NINGUÉNS



OS NINGUÉNS
                Eduardo Galeano
          As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns em deixar vocês na pobreza; que algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, não chove hoje, nem amanhã, nem nunca nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem mesmo e mesmo que a mão esquerda coce ou se levante com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
         Os ninguéns: os filhos de ninguéns donos de nada.
         Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos morrendo a vida, fodidos e mal pagos. Que embora não sejam.
         Que não falam idiomas, falam dialetos.
         Que não praticam religiões, praticam superstições.
         Que não fazem arte, fazem artesanato.
         Que não são seres humanos, são recursos humanos.
         Que não tem cultura, tem folclore.
         Que não tem cara tem braços.
         Que não tem numero.
         Que não aparecem na história universal, aparecem nas paginas policiais da imprensa local.
         Os ninguéns, que custam menos que a bala que os mata.
            
       (Eduardo Galeano, o livro dos abraços, São Paulo, L&PM,1991) 
Paticularmente gosto dos textos do Eduardo Galeano, pela precisão sociológico, é como o grito dos excluidos soando a todos os cantos, inclusive os eruditos. Já trabalhei este texto com meus alunos, para  mostrar a cor deste mundo descolorido. Espero que gostem. obrigado Eduardo Galeano 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

DEGUSTAÇÃO DE VINHO EM MINAS

DEGUSTAÇÃO DE VINHO EM MINAS
                                                Luiz Fernando Veríssimo
- Hummm...          
- Hummm...
- Eca!!!
- Eca?! Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de
trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo ?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor !! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, lá isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiando o narigão lá dentro. O senhor tá gripado, é ?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzi-lo no...
- Mais num vai introduzi mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... Eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta...
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, messs! Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento! Engulidô de rôia!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim! E é um... e é dois... e é treis! Num corre, não, fiodaputa! Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha fedorenta!...



''...A distância pode causar saudade, mas nunca o esquecimento
..."

Recebi o texto via email e resolvi compartilhar...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

DOXA E EPISTEME - FILOSOFIA EM QUADRINHOS

















Marcos Roberto é duplamente feliz, filósofo e desenhista, faz da  filosofia uma conversa continua e agradável e parafraseando-o, é impossível  conversar por um minuto sem aprender a filosofia, tem uma alegria contagiante de fazer inveja a Epicuro. Como todo bom filosofo é perseguido por querer que a verdade prevaleça, e incomoda aqueles que se acham grandes. É um prazer Marcos recebê-lo neste blog...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS...

O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS... 
                                                                Por   Adailton Bastos
A sirene toca na nossa ultima aula,
saímos ansiosos para ganhar o mundo,
mas ao atravessar o portão sinto um
friozinho na barriga...
Pensei que a saudade ia demorar mais um
pouquinho pra assolar meus pensamentos,
finjo que não é comigo,
mas a cada abraço dos amigos que aqui ganhei,
dos professores que ficam,
dos colegas das outras turmas...
procuro não pensar para as lágrimas não me denunciar,
chego em casa na alegria da conquista merecida,
a noite o travesseiro aciona um telão imaginário,
 passa um filme... e eu sou o personagem principal,
volto no tempo e lembro do primeiro dia de aula,
chorei pois não conhecia aquele mundão de gente,
mamãe disse que a escola era importante para mim,
que eu ia aprender uma porção de coisas, fazer muitos
amigos diferentes, conhecer gente bacana, gente chata enfim
gente indiferente, não importa era uma coisa nova para mim,
mudei de sala, de professor, de colégio,
e principalmente eu mudei, cresci mesmo querendo muito
ou não querendo cresci assim mesmo,
na escola me apaixonei pela primeira vez,
na escola sorri muitas vezes,
e não poucas vezes saí muito zangado,
chorei, cantei, brinquei...
e agora para qual escola que eu vou?
Como diz Cora: “Na escola da vida, o tempo é o mestre ...”
Nesta escola tem que acordar cedo,
dormir tarde e muiiiiiiitasss tarefas...
Xiiii! Nesta escola não tem jeito de fugir,
nem sempre tem como repetir, as vezes tem sirene,
mas com certeza tem cartão de ponto,
o filme é interrompido bruscamente, afinal
Este é o primeiro ano do resto de nossas vidas...


Este poema fiz algun tempo atrás, e mexe comigo, e esta turma merece mais que um poema, minha singela homenagem e não esquecerei... 
BOA SORTE MEUS ALUNOS E SEJAM FELIZES!