quarta-feira, 19 de novembro de 2014

JOÃO BRAÚNA - LITERATURA DE CORDEL


JOÃO BRAUNA
 Autor desconhecido
João Braúna do riacho do navi
Era um homem direito no
tempo que eu conheci
rezava, tinha oratório .
festejava Padre Cícero,
adorava São José,
pegava em ando de santo
e ia pra missa a pé...

Mas um dia,  um certo dia,
bem na hora do armoço, o veio
inguliu um osso que atravessou-lhe a guela.
Chamaram três rezadeiras,
rezaram a tarde inteira
chamaram todos os santos
benzeram até a espinhela.

O veio roxo babavam,
uns diziam já morreu.
Até que o vaqueiro  Firmino
manheceno  resolveu.
Pegou um rolo de fumo
esfarelou com água  numa gamela
cuou aquele caldo grosso
pegou o veio engasgado
e dispejou pela guela
depois de tanto vomitório
o osso saltou pra fora
o veio escapou daquela

Depois do veio curado
pegou os santos tudim,
distribuiu com os vizins.
pegou  um rolo de

fumo  e pois lá no oratório.


OBSERVAÇÃO: Seguindo a tradição oral, esta história é versada por meu pai e das muitas histórias contadas por ele nas reuniões da familia originalmente nordestina, que achei por bem compartilhar aqui.

sábado, 15 de novembro de 2014

HISTÓRIAS DE UM CINÉFILO



HISTÓRIAS DE UM CINÉFILO
 Paulo Martins
Deu-se a notícia no principal jornal da cidade: “Até que enfim, sessão pipoca para os amantes da sétima arte.”. A expectativa era geral. O momento tão esperado para os cinéfilos da mais nova capital já tinha data marcada. Tudo estava pronto para a inauguração do cinema, no moderníssimo shopping da cidade. A data não poderia ser mais sugestiva, meados de junho, o mês dos namorados. Mais alegre que todos estava Durval, antigo morador da cidade. Depois de anos, a população voltaria a ter uma sala de cinema, digna de uma capital planejada.
Seria a primeira vez que Durval entraria em uma sala de cinema. Anos atrás, por pouco ele teria visto Sharon Stone na telona. Mas quando tudo estava arrumado, ingressos, dinheiro, compania, saiu à notícia: “O Cineazul fecha as portas para não mais abrir.”. Os ingressos ele rasgou, de raiva. O dinheiro do refrigerante e da pipoca ele gastou com cachaça, no bar do Sarapatel. Quanto à compania, depois do “quaaaasee!” encontro, desistiu dele e bandeou para o lado do Carlão da mecânica. Daquele tempo para cá, Durval andou capengado de um lado para o outro, meio que a esmo.
“Eu não vou conhecer todos os lugares... Não posso viajar no tempo... Eu vou morrer algum dia. O cinema é só um sonho.”. Agora, depois que leu no jornal a frase acima, proferida no filme Cinema Paradiso, a fantasia de Durval renasceu das cinzas, como uma Fênix. Já se imaginava dentro de uma das salas de cinema, sentado, segurando a pipoca e o refrigerante. Ao lado, uma bela mulher.
A estreia estava confirmada. E a presença de Durval também. Vendeu a bicicleta e juntou o dinheiro para as despesas. Só havia um problema, a entrada que comprou só valia para casais, uma promoção para o mês dos namorados. Então pensou nas pretendentes. Quem sabe a Maria. Mas era desprovida de belezas. Talvez a Marialva do Zeca. Era bonita e lhe dava bola. Mas era casada. Se bem que ficariam no escuro, e ninguém iria saber de nada. Mas o Zeca parecia ser perigoso de mais. Então pensou na Rosicréia, vizinha do tal Carlão. Era bonitona. Não era uma moça de “família”, no seu dizer, mas o importante era aceitar o convite. E foi o que aconteceu. Porém, ela exigiu que Durval lhe comprasse um vestido novo, um brinco de capim dourado e que lhe adiantasse uns cem reais. Já que, segundo ela, mulher moderna não aceita que homem banque as despesas. Durval achou o máximo.
Chegou o dia. Uma hora antes do momento combinado, Durval já estava lá na entrada, extasiado com a belíssima iluminação do cinema. Tremia em pleno calor. Roía as unhas. Estralavam os dedos. Estava ansioso, nervosíssimo.
As horas passavam e nada de Rosicréia. A fila andava, a sessão começou, e ela nada de chegar. Não dava mais tempo. Mais uma vez, não foi daquela vez. O jeito era rasgar o ingresso de novo. Gastar mais uma vez o resto do dinheiro, no bar do Sarapatel, e dessa vez juntar uma grana para dar um fim no Carlão.




 Paulo Martins é professor e escritor,
pós-graduado em linguística aplicada na educação.
E-mail: paulo.linguagens@hotmail.com

terça-feira, 4 de novembro de 2014

OBSTÁCULOS


OBSTÁCULOS  
            Autor desconhecido
            Em tempos bem antigos, um rei colocou uma pedra enorme no meio de uma estrada. Então, ele se escondeu e ficou observando para ver se alguém tiraria a imensa rocha do caminho. Alguns mercadores e homens muito ricos do reino passaram por ali e simplesmente deram a volta pela pedra.
           Alguns até esbravejaram contra o rei dizendo que ele não mantinha as estradas limpas, mas nenhum deles tentou sequer mover a pedra dali.
De repente, passa um camponês com uma boa carga de vegetais.
Ao se aproximar da imensa rocha, ele pôs de lado a sua carga e tentou remover a rocha dali. Após muita força e suor, ele finalmente conseguiu mover a pedra para o lado da estrada.
               Ele, então, voltou a pegar a sua carga de vegetais, mas notou que havia uma bolsa no local onde estava a pedra. A bolsa continha muitas moedas de ouro e uma nota escrita pelo rei que dizia que o ouro era para a pessoa que tivesse removido a pedra do caminho.
O camponês aprendeu o que muitos de nós nunca entendemos:

 "Todo obstáculo contém uma oportunidade para melhorarmos nossa condição".