quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OS NINGUÉNS



OS NINGUÉNS
                Eduardo Galeano
          As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns em deixar vocês na pobreza; que algum dia mágico a sorte chova de repente, que chova a cântaros; mas a boa sorte não chove ontem, não chove hoje, nem amanhã, nem nunca nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem mesmo e mesmo que a mão esquerda coce ou se levante com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
         Os ninguéns: os filhos de ninguéns donos de nada.
         Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos morrendo a vida, fodidos e mal pagos. Que embora não sejam.
         Que não falam idiomas, falam dialetos.
         Que não praticam religiões, praticam superstições.
         Que não fazem arte, fazem artesanato.
         Que não são seres humanos, são recursos humanos.
         Que não tem cultura, tem folclore.
         Que não tem cara tem braços.
         Que não tem numero.
         Que não aparecem na história universal, aparecem nas paginas policiais da imprensa local.
         Os ninguéns, que custam menos que a bala que os mata.
            
       (Eduardo Galeano, o livro dos abraços, São Paulo, L&PM,1991) 
Paticularmente gosto dos textos do Eduardo Galeano, pela precisão sociológico, é como o grito dos excluidos soando a todos os cantos, inclusive os eruditos. Já trabalhei este texto com meus alunos, para  mostrar a cor deste mundo descolorido. Espero que gostem. obrigado Eduardo Galeano 

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