Sou
um dos últimos representantes da “silver age” da pedagogia. Nem em meus sonhos
fui um bom aluno, afinal estudar é, foi e sempre será um chute ali embaixo.
Mas, graças à persistência e a visão de (alguns dos) meus professores,
diretores, psicólogos e, principalmente, meus pais, consegui me sair
razoavelmente bem atrás da carteira (sou tão bondoso comigo mesmo...). Então,
eu e os vários colegas que tive vivenciamos o progressivo sucateamento do
sistema educacional. Eu sei, temos uma parcela da culpa do que acontece
atualmente, mas não chegamos nem aos pés da geração de hoje.
Gabriel
o Pensador já havia nos alertado, o Pink Floyd também. Praticamente toda a
população do Facebook também está careca de saber, agora só falta que as
pessoas a quem o assunto “realmente interessa” abram os olhos: A educação, não
apenas do Brasil como praticamente do mundo todo, precisa de uma revolução
urgente. O mundo mudou, as pessoas mudaram, então por que só o “bom e velho”
ler até decorar continua valendo como o método de ensino mais eficaz?
Meus
pais costumam me contar que, no tempo em que eles iam à escola, a profissão de
educador dava muito status a quem se habilitasse. Respeitados, os professores
precisavam se apresentar ao trabalho de terno. Tinham, para a época, bons
salários e às vezes podiam ter bons carros. E a punição para a indisciplina na
sala de aula era sempre severa. Podemos até não aprovar aqueles métodos
fascistas de manter a ordem na sala, como palmatória, chapéu de burro, castigo
no canto e afins. Mas podem apostar que a linha que separava professores e
alunos era bem clara. Ele estava lá para ensinar e nós estávamos lá para
aprender, nada a mais ou a menos. E ai de quem se atrevesse a desrespeitar a
ordem natural!
Então,
chegamos à atual situação... Noutros tempos, quando o aluno levava um boletim
sofrível para a casa, a culpa era exclusivamente dele. Hoje, os pais
simplesmente creem que o professor tem a OBRIGAÇÃO de abrir a cabeça do
catarrento e IMPLANTAR a lição no cérebro deles, por isso ainda se deixam ser
extorquidos pela mensalidade. Logo, se a nota do delinqüente é baixa, a culpa é
do sofredor acuado entre a mesinha e a lousa. Os irresponsáveis pais de
hoje- que, estimo eu, de cada dez casais, apenas um fez filhos de propósito-
pensam nos professores como Moisés conduzindo os escravos através do deserto,
exercendo função de pais, professores, psicólogos, assistentes sociais e até
motoristas da van do colégio. Muita areia pro carrinho de mão de qualquer um!
Num
mundo onde parecemos atirados num barril cheio de macacos, o bullying dita as
regras nos corredores dos colégios. A hostilidade é tanta que, se algum aluno
se atrever a saber um pouquinho a mais que os outros, logo vira um alvo móvel
para os brucutus da classe. Numa inversão curiosa, os estúpidos logo darão
continuidade à raça humana e os inteligentes precisarão viver escondidos.
Nessas condições, o que o professor pode fazer? Na terra livre e sem regras de
hoje, eles apanham dos alunos até mais que os alunos queridinhos. Tirando a
Professora Helena, que toca a classe como um violino, todos os educadores de
hoje vivem com medo de ir trabalhar, desenvolveram síndrome de pânico e sequer
sentem vontade de se preparar melhor intelectualmente para exercer a profissão.
Para entrar no cubículo e ter de conviver com os presidiários de amanhã, só ser
concursado já basta.
Quando
se é criança, o mundo é um parque de diversões. Na mente fértil e distorcida de
nossos filhos, eles mal podem esperar para crescer e ser aquilo que sempre
sonharam, para mostrar aos adultos babacas como é que se manda no planeta. Eles
vêem os pais trabalhando e imaginam o orgulho que terão ao seguir os passos
deles, sejam médicos, engenheiros, advogados, para citar as profissões mais clássicas,
ou até pedagogos. A diferença é que, na infância, quando se pensa na carreira
que pretende seguir, o dinheiro é a última coisa que passa pela nossa cabeça.
Aí
você cresce, e todo o romantismo que nossas visões ingênuas produziam das
profissões simplesmente evapora. Tornamo-nos os nossos pais. O pragmatismo toma
o lugar da emoção, e a única coisa que passa a importar é trabalhar para ganhar
o dinheiro suado e devolver tudo pro governo. E, quando menos esperar, lá está
você, ao lado de outros professores, entrando em greve para reivindicar maiores
salários. Mas se esqueceu de um pequeno detalhe: Se seus alunos vêem que você
está nessa profissão só por causa do dinheiro e que a formação intelectual
deles sequer está em sua lista de prioridades, é óbvio que eles nunca o
respeitarão.
Já
vi algumas vezes a seguinte pergunta na internet “Será que você, quando era
criança, gostaria do que se tornou na versão adulta?”, e é um questionamento
muito pertinente. Como você se sentiria ao acordar um dia e se dar conta que
pisoteou os seus próprios sonhos? Não sei de vocês, mas minha versão pivete, se
tivesse músculos, ia arrebentar minha cara. Se bem que meu sonho era ser piloto
de robôs... A principal diferença entre as crianças de hoje e as do tempo de
nossos pais é que as de hoje vivem num mundo onde já não há mais nada a ser
construído ou descoberto. Tá tudo pronto pra elas, basta virem pegar. Quem ia
querer batalhar por alguma coisa durante anos, na velocidade em que o mundo
moderno corre? Tudo para nós nesse instante, e que vá para o inferno quem nos
negar essa vontade!
14/05/2013
Designer e escritor. Sites:
HTTP://cyberyanmar.deviantart.com/
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
HTTP://www.facebook.com/terradeexcluidos FALANDO SOBRE O AUTOR; Fernando é um exímio escritor, tem um senso aguçado, bom humor e muito conhecimento, recomendo a leitura.
Adailton Bastos
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Adailton Bastos
Muito bom, apesar de ter um tom bem ríspido rsrrsrssrs, o texto está cheio de verdades. Parabéns Fernando.
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