quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PRO CANTO E DE COSTAS!


PRO CANTO E DE COSTAS!
                                         Fernando Yanmar Narciso*
Sou um dos últimos representantes da “silver age” da pedagogia. Nem em meus sonhos fui um bom aluno, afinal estudar é, foi e sempre será um chute ali embaixo. Mas, graças à persistência e a visão de (alguns dos) meus professores, diretores, psicólogos e, principalmente, meus pais, consegui me sair razoavelmente bem atrás da carteira (sou tão bondoso comigo mesmo...). Então, eu e os vários colegas que tive vivenciamos o progressivo sucateamento do sistema educacional. Eu sei, temos uma parcela da culpa do que acontece atualmente, mas não chegamos nem aos pés da geração de hoje.
Gabriel o Pensador já havia nos alertado, o Pink Floyd também. Praticamente toda a população do Facebook também está careca de saber, agora só falta que as pessoas a quem o assunto “realmente interessa” abram os olhos: A educação, não apenas do Brasil como praticamente do mundo todo, precisa de uma revolução urgente. O mundo mudou, as pessoas mudaram, então por que só o “bom e velho” ler até decorar continua valendo como o método de ensino mais eficaz?
Meus pais costumam me contar que, no tempo em que eles iam à escola, a profissão de educador dava muito status a quem se habilitasse. Respeitados, os professores precisavam se apresentar ao trabalho de terno. Tinham, para a época, bons salários e às vezes podiam ter bons carros. E a punição para a indisciplina na sala de aula era sempre severa. Podemos até não aprovar aqueles métodos fascistas de manter a ordem na sala, como palmatória, chapéu de burro, castigo no canto e afins. Mas podem apostar que a linha que separava professores e alunos era bem clara. Ele estava lá para ensinar e nós estávamos lá para aprender, nada a mais ou a menos. E ai de quem se atrevesse a desrespeitar a ordem natural!
Então, chegamos à atual situação... Noutros tempos, quando o aluno levava um boletim sofrível para a casa, a culpa era exclusivamente dele. Hoje, os pais simplesmente creem que o professor tem a OBRIGAÇÃO de abrir a cabeça do catarrento e IMPLANTAR a lição no cérebro deles, por isso ainda se deixam ser extorquidos pela mensalidade. Logo, se a nota do delinqüente é baixa, a culpa é do sofredor acuado entre a mesinha e a lousa.  Os irresponsáveis pais de hoje- que, estimo eu, de cada dez casais, apenas um fez filhos de propósito- pensam nos professores como Moisés conduzindo os escravos através do deserto, exercendo função de pais, professores, psicólogos, assistentes sociais e até motoristas da van do colégio. Muita areia pro carrinho de mão de qualquer um!
Num mundo onde parecemos atirados num barril cheio de macacos, o bullying dita as regras nos corredores dos colégios. A hostilidade é tanta que, se algum aluno se atrever a saber um pouquinho a mais que os outros, logo vira um alvo móvel para os brucutus da classe. Numa inversão curiosa, os estúpidos logo darão continuidade à raça humana e os inteligentes precisarão viver escondidos. Nessas condições, o que o professor pode fazer? Na terra livre e sem regras de hoje, eles apanham dos alunos até mais que os alunos queridinhos. Tirando a Professora Helena, que toca a classe como um violino, todos os educadores de hoje vivem com medo de ir trabalhar, desenvolveram síndrome de pânico e sequer sentem vontade de se preparar melhor intelectualmente para exercer a profissão. Para entrar no cubículo e ter de conviver com os presidiários de amanhã, só ser concursado já basta.
Quando se é criança, o mundo é um parque de diversões. Na mente fértil e distorcida de nossos filhos, eles mal podem esperar para crescer e ser aquilo que sempre sonharam, para mostrar aos adultos babacas como é que se manda no planeta. Eles vêem os pais trabalhando e imaginam o orgulho que terão ao seguir os passos deles, sejam médicos, engenheiros, advogados, para citar as profissões mais clássicas, ou até pedagogos. A diferença é que, na infância, quando se pensa na carreira que pretende seguir, o dinheiro é a última coisa que passa pela nossa cabeça.
Aí você cresce, e todo o romantismo que nossas visões ingênuas produziam das profissões simplesmente evapora. Tornamo-nos os nossos pais. O pragmatismo toma o lugar da emoção, e a única coisa que passa a importar é trabalhar para ganhar o dinheiro suado e devolver tudo pro governo. E, quando menos esperar, lá está você, ao lado de outros professores, entrando em greve para reivindicar maiores salários. Mas se esqueceu de um pequeno detalhe: Se seus alunos vêem que você está nessa profissão só por causa do dinheiro e que a formação intelectual deles sequer está em sua lista de prioridades, é óbvio que eles nunca o respeitarão.
Já vi algumas vezes a seguinte pergunta na internet “Será que você, quando era criança, gostaria do que se tornou na versão adulta?”, e é um questionamento muito pertinente. Como você se sentiria ao acordar um dia e se dar conta que pisoteou os seus próprios sonhos? Não sei de vocês, mas minha versão pivete, se tivesse músculos, ia arrebentar minha cara. Se bem que meu sonho era ser piloto de robôs... A principal diferença entre as crianças de hoje e as do tempo de nossos pais é que as de hoje vivem num mundo onde já não há mais nada a ser construído ou descoberto. Tá tudo pronto pra elas, basta virem pegar. Quem ia querer batalhar por alguma coisa durante anos, na velocidade em que o mundo moderno corre? Tudo para nós nesse instante, e que vá para o inferno quem nos negar essa vontade!

14/05/2013
 Designer e escritor. Sites:
HTTP://cyberyanmar.deviantart.com/
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HTTP://www.facebook.com/terradeexcluidos
FALANDO SOBRE O AUTOR; Fernando é um exímio escritor, tem um senso aguçado, bom humor e muito conhecimento, recomendo a leitura. 
                                                      Adailton Bastos

Um comentário:

  1. Muito bom, apesar de ter um tom bem ríspido rsrrsrssrs, o texto está cheio de verdades. Parabéns Fernando.

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